Água como Matriz Ecopedagógica

gua-matriz-ecopedaggica-5-728O projeto Água como Matriz Ecopedagógica surge como interrogação diante do cenário da crise local e mundial das águas do planeta: como trabalhar a sensibilidade e a racionalidade face a uma matéria aparentemente abundante, mas cuja escassez real coloca em risco nossa sobrevivência ? O que fazer para que dados tão alarmantes não se tornem de tal forma banalizados a ponto de não repercutirem mais que o instante em que são veiculados ?

A Universidade de Brasília vem desenvolvendo nos últimos anos projetos de extensão e pesquisa em educação ambiental para gestão sustentável dos recursos hídricos do Distrito Federal e bioma Cerrado em parceria com escolas, associações de moradores e produtores locais e organizações não governamentais. O projeto Água como Matriz Ecopedagógica, iniciado em fevereiro de 2003, coordenado pelas professoras Vera Lessa Catalão (Faculdade de Educação) e Maria do Socorro Rodrigues (Departamento de Ecologia), integrantes do CIRAT, faz parte desse cenário extensionista na área de Educação Ambiental e Ecologia Humana, tendo como foco uma ecopedagogia capaz de resignificar o gesto cotidiano para gestão solidária e sustentável dos recursos hídricos locais do Distrito Federal. A reflexão sobre a prática encaminha o referencial teórico-conceitual da pesquisa acadêmica e a construção transpessoal da aprendizagem orienta o planejamento e realização das atividades.

O projeto Água como Matriz Ecopedagógica trabalha com três escolas ribeirinhas instaladas nas proximidades de cursos d’água na circunscrição das micro-bacias hidrográficas de S.Bartolomeu e do Lago Paranoá. O objetivo central é contribuir para que cada comunidade escolar se transforme em protagonista da educação ambiental junto às comunidades do seu entorno. Outros objetivos orientam o trabalho pedagógico:

a) Promover a troca – de conhecimentos, informações, práticas e contextos – entre as escolas envolvidas no projeto;

b) Buscar criar atividades coletivas entre as escolas que possam servir ao trabalho docente cotidiano;

c) Procurar reconhecer os conhecimentos locais e articulá-los aos conhecimentos científicos;

d) Promover, através da articulação dos conhecimentos, a criação de vínculos de solidariedade e apoio entre a comunidade.

A formação dos formadores é o eixo articulador do projeto. Todos participantes estão de alguma maneira em processo de formação no sentido da comunidade de aprendizagem descrito por Fritjof Capra ( 1997). As atividades desenvolvidas dentro das escolas interagem com a pesquisa e o estágio de estudantes dos cursos de Pedagogia e Ecologia, especialmente aqueles com interesse específico no tema água. Para realização deste projeto a UnB estabeleceu parceria com a Secretaria de Estado da Educação do Distrito Federal para formação dos professores e para implementação das atividades nas comunidades e nas escolas selecionadas.

O projeto centrou-se em 03 escolas ribeirinhas, sendo duas situadas em Brasília próximas aos córregos do Torto e do Palha, na bacia do Paranoá e a terceira situada em Planaltina próxima ao ribeirão Mestre d´Armas, bacia de S. Bartolomeu. Em 2004, em razão da distância, o Centro de Ensino Nova Betânia, situada nas proximidades do córrego Cachoeirinha, também na bacia do S. Bartolomeu substituiu a escola próxima ao ribeirão Mestre d´Armas. A comunidade escolar tem funcionado como vetor de educação ambiental para a comunidade do entorno. A Universidade de Brasília responde pelas atividades de pesquisa e extensão desenvolvidas pelos docentes e estudantes universitários envolvidos no projeto. A Escola da Natureza, responsável pela área de educação ambiental para as escolas da rede pública do Distrito Federal acompanhou cada escola no desenvolvimento dos seus projetos e na organização dos eventos e oficinas para comunidade durante a implantação do programa em 2003.

Como atividade de extensão buscamos realizar um diagnóstico sócio-ambiental das comunidades e promover atividades de recuperação de áreas degradadas sob a orientação de alunos de pós-graduação do Departamento de Ecologia e docentes da UnB. Em 2003 foram realizados mutirões reunindo escola e comunidade para replantio de trecho da mata ciliar nas margens do ribeirão Mestre d´Armas situado nas proximidades da escola. Em 2004, foi realizada uma limpeza em trechos do córrego Cachoeirinha e nos quintais das chácaras que o margeiam por alunos do ensino fundamental do Centro de Ensino Nova Betânia. O projeto inclui também o planejamento participativo (escola/comunidade/equipe técnica do projeto) de atividades integradoras tais como:

• Horta escolar

• Plantio de uma área no modelo agroflorestal

• Limpeza dos córregos e nascentes

• Replantio de mata ciliar

• Instalação de um viveiro para cultivo mudas e gramíneas

• Excursões educativas dos alunos a unidades de preservação, estação de tratamento de água e esgoto, contato com experiências bem sucedidas de manejo ambiental e sustentabilidade.

• Oficinas de práticas sustentáveis para a comunidade e para funcionários alocados na administração e manutenção das escolas

O conjunto dessas atividades comunitárias integradoras e práticas sustentáveis está articulado a um programa de formação para docentes de escolas públicas e lideranças comunitárias. Na fase inicial, desenvolvemos um curso, com duração de 180 horas, através do Decanato de Extensão da Universidade de Brasília em parceria com a Secretaria de Estado de Educação concluído em dezembro de 2003. Na seqüência deste primeiro curso, o projeto oferece semestralmente cursos de formação contínua em módulos de 40 horas para professores das escolas participantes. Em 2004, foram oferecidos dois cursos sobre “Alfabetização ecológica” e em 2005 estamos desenvolvendo para professores e educadores das comunidades ribeirinhas uma formação sobre “Viveiros Escolares” com apoio do Departamento de Parques e Jardins da Novacap que integra a aprendizagem de técnicas de cultivo em viveiros ao desenvolvimento de atividades curriculares transversais nas escolas. Para o segundo semestre deste ano está agendado um curso de 40 horas sobre “Trabalho de corpo como recurso pedagógico” com práticas de Tai-chi-chuan, exercícios de respiração, auto-massagem e meditação taoista.

As ações de extensão e pesquisa do projeto “Água como matriz ecopedagógica” caracterizam-se pela abordagem da pesquisa-ação (Barbier, 2002), buscando a intervenção nos contextos locais, visando a modificação de comportamentos e solução de problemas sócio-ambientais de forma participativa e integrada. As relações entre gente e meio ambiente são percebidas como uma eco-hetero-formação no sentido da educação tripolar proposta por Gaston Pineau (1992). Os processos formativos através de uma abordagem transversal disseminam-se em todas atividades realizadas: reuniões comunitárias, espaços de coordenação pedagógica, estágios acadêmicos, eventos festivos, oficinas, plantio e brincadeiras. Busca-se assim a construção de um saber ambiental indissociável das práticas comunitárias cotidianas, tanto no âmbito da escola, da comunidade e da ação extensionista da Universidade de Brasília.

 

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