Rumo às últimas fronteiras do conhecimento sobre a água

A pesquisadora paulista Leoni Bonamin – dirigente do CIRAT – vem se destacando com seus estudos sobre ultradiluições de substâncias biologicamente ativas e seus efeitos em sistemas vivos

No último dia 24 de março, a pesquisadora e professora brasileira Leoni Villano Bonamin – também dirigente do CIRAT – realizou mais um grande feito em sua carreira repleta de conquistas: como membro e editora convidada do International Panel on Water Structure (IPWS) lançou, durante o 9º Fórum Mundial da Água de Dakar, no Senegal, uma edição especial do Water Journal (Water – a Multidisciplinary Research Journal), prestigiosa publicação multidisciplinar dedicada a reunir pesquisas originais em torno da estrutura molecular da água. 

A tarefa quase hercúlea (de reunir artigos de vanguarda, inéditos, de importantes autores ao redor do mundo) revela algo da incansável dedicação da professora aos temas ligados à nanoestrutura da água. Agora à frente de diversos projetos de pesquisa como professora titular de graduação e pós-graduação na Universidade Paulista (Unip), Leoni Bonamin* – médica veterinária pela Universidade de São Paulo (USP), com mestrado e doutorado em Patologia Experimental e Comparada também pela USP, doutorado sanduíche na École Nationale Vétérinaire de Lyon e pós-doutorado em Patologia Ambiental e Experimental pela Unip – hoje se dedica a estudar ultradiluições de substâncias biologicamente ativas e seus efeitos em sistemas vivos. Atualmente, entre muitas outras coisas, é também diretora Científica e Acadêmica do CIRAT, que ocupa a Secretaria Executiva do IPWS até 2024. Não por acaso, o seu trabalho vanguardista vem se destacando aqui e no exterior. 

Nesta rápida entrevista ao site do IPWS, a professora Leoni fala um pouco sobre sua motivação profissional e sobre o papel do Painel na expansão do conhecimento sobre a microestrutura da água.

1 – Há quanto tempo a Sra. está envolvida com a pesquisa sobre a nanoestrutura da água? O que a levou a mergulhar neste universo?

Despertei meu interesse pela nanoestrutura e microestrutura da água em 2018, ao participar da XIII International Science Conference – Physics, Chemistry and Biology of Water (ou simplesmente: Water Conference) – e o que me levou até essa conferência foi minha carreira de pesquisa na área de homeopatia e altas diluições, iniciada em 1997. A necessidade de entender o que acontece quando uma substância é diluída e submetida a agitação vigorosa – e como isso gera efeitos biológicos peculiares, a ponto de serem usados como medicamentos – me levou inevitavelmente a querer entender a dinâmica estrutural da água.

2 – Como vê o status quo da pesquisa e do conhecimento sobre a estrutura molecular da água nos últimos anos? A partir de quando esse conhecimento avançou de forma mais significativa?

É um conhecimento que vem se construindo ao longo dos últimos 20 anos, em grande parte impulsionado pelo professor Gerald Pollack, da Universidade de Washington em Seattle, nos EUA. Além das conferências anuais, ele também é o editor-chefe do periódico científico Water Journal, onde publicamos o número especial lançado durante o 9º Fórum Mundial da Água, em março. No início, a simples ideia de que um líquido poderia assumir alguma estrutura molecular parecia completamente nonsense, uma vez que as ligações inter-moleculares que ocorrem entre as moléculas de H2O são muito fugazes: ligam-se e desligam-se em 10-15 segundos. A partir de 1988, com a proposta dos professores italianos Emílio Del Giudice, Giuliano Preparata e Giuseppe Vitiello – e a demonstração matemática da plausibilidade do conceito de “domínios de coerência”, em que princípios da eletrodinâmica quântica eram aplicados às propriedades da água –, houve uma ruptura importante e muitos pesquisadores saíram em busca de evidências experimentais de tal conceito. Hoje, há muitas evidências de que a água se estrutura de forma dinâmica e não estática. Tais evidências podem ser demonstradas por métodos relativamente simples, como a microscopia óptica – mas ainda há muitas questões não respondidas sobre o tema. Mais e mais pesquisas são necessárias.

3 – O que o International Panel on Water Structure representa, formalmente, para o avanço do conhecimento sobre a estrutura molecular da água?

Vejo o IPWS – ou Painel Internacional sobre Estrutura da Água – como uma “proto-sociedade científica”: o primeiro passo para agregar pesquisadores de maneira formal, sob um logotipo, para articular discussões e parcerias. Na verdade, esse entrosamento já existe de maneira informal com os encontros anuais organizados pelo professor Pollack. Espera-se que, em um futuro próximo, seja possível a organização de uma sociedade científica sobre o tema – assim, a popularização desse conhecimento com maior representatividade no meio científico e, quem sabe, maior facilidade para o financiamento dessas pesquisas poderão se tornar realidade.

4 – Para onde esse conhecimento avança?

Para a aplicação em situações de campo, como agricultura, ecologia, produção de energia limpa, medicina etc. A compreensão da água e de suas propriedades, bem como o manejo racional e sustentável dessas propriedades, podem ser uma excelente ferramenta para a construção de cadeias produtivas e serviços mais sustentáveis e menos agressivos às pessoas, aos animais e ao planeta. Tal potencial de aplicação prática vai de encontro ao conceito de saúde única (one health), conforme estabelecido pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura

5 – Quais os próximos passos do IPWS em seu contínuo avanço sobre o tema?

Consolidar as parcerias e projetos comuns entre seus participantes. Os passos subsequentes, naturalmente, poderão acontecer de forma orgânica, natural, em função do tempo.

6 – Com que projetos a Sra. está envolvida neste momento?

Com a compreensão dos mecanismos de ação dos medicamentos homeopáticos, fabricados com base em altas diluições de substâncias conhecidas seguidas de sucussão, ou agitação vigorosa. 

*Professora Leoni Villano Bonamin é também membro (2022) do Comitê Temático de Homeopatia do Consórcio Acadêmico Brasileiro de Saúde integrativa (CABSIn) e Bolsista Produtividade em Pesquisa pelo CNPq nível 2 desde 2011 – e foi colaboradora (1997-2015) da Universidade de Santo Amaro (Unisa); e presidente (2002-2008) e vice-presidente (2008-2014) do Groupe International de Recherche sur l´Infinitésimal (GIRI). É editora adjunta da revista Homeopathy (Faculty of Homeopathy – London / Thieme) desde 2015 e membro do corpo editorial dos periódicos International Journal of High Dilution Research (LILACS – GIRI) e Water – a Multidisciplinary Research Journal. É pesquisadora credenciada no Homeopathy Research Institute (HRI, Reino Unido) e membro do Scientific Advisory Board da Global Homeopathy Foundation (GHF, Índia), e organizadora do site educativo www.biodiluitons.com.

 

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